Páscoa: Festa de «perdão» e vida em São Tomé e Príncipe

Bispo português destaca a importância deste tempo litúrgico para a coesão familiar e comunitária do arquipélago lusófono

Lisboa, 03 abr 2013 (Ecclesia) – Para as comunidades católicas de São Tomé e Príncipe, a Páscoa é um tempo de alegria, pela ressurreição de Cristo, mas também de perdão e reconciliação, onde todas as querelas familiares e comunitárias são postas de lado.

Em declarações ao Programa ECCLESIA, D. Manuel António dos Santos, bispo que acompanha há seis anos aquela diocese lusófona, explica que esta tradição começa a ser vivida logo no início da Quaresma, com a reunião do “bocado”.

Segundo o prelado, trata-se de um encontro de família, que tem lugar na Quarta-feira de Cinzas, em que todos os parentes se reúnem “à volta da pessoa mais velha”, que depois “dá um pouco de comida a todos os presentes”.

“Se alguma pessoa da família não participar nesse encontro, porque as coisas não andam bem, acaba por viver a Quaresma num caminho de reconciliação que termina na Sexta-feira Santa, que aqui se chama dia do perdão”, realça o bispo de São Tomé.

Membros da comunidade que estão de costas voltadas ou parentes que “por qualquer razão cortaram relações, procuram ir a casa dos outros para se reconciliarem e esquecerem” as querelas que foram ganhando forma ao longo do ano.

Para D. Manuel António dos Santos, “ligar” a festa do perdão ao dia da entrega de Jesus na Cruz, em que ele mesmo pede perdão até pelos inimigos, é um gesto cheio de significado pascal”.

A Sexta-feira e o Sábado Santo acabam mesmo por ser os dias mais especiais do tempo pascal, nas ilhas de São Tomé e do Príncipe – Tal “como no dia de Natal”, as pessoas “vão à missa” da vigília e depois ficam acordadas “pela noite dentro”.

No Domingo de Páscoa “as igrejas acabam por estar mais vazias”, porque as pessoas “vão visitar os amigos, fazer os almoços de família, porque a celebração pascal acaba por ser vivida sobretudo na noite anterior”, refere o prelado.

Natural da diocese portuguesa de Lamego, o bispo e missionário claretiano tem uma grande ligação com o povo são-tomense, que começou a construir no tempo em que ainda era estudante.

“Quase que se pode dizer que ainda antes de ter vindo para cá”, em dezembro de 2006, “já conhecia São Tomé”, revela D. Manuel António dos Santos, que destaca a “alegria” característica do “povo africano”.

“As celebrações não têm carga de melancolia, para eles, a própria morte é tempo de canto, de festa, de encontro”, complementa.

Numa entrevista que poderá ser acompanhada esta quinta-feira, a partir das 22h45 na Antena 1, o prelado sublinha que, apesar do fervor com que os são-tomenses vivem a fé, “o aparecimento de várias seitas” relacionadas “com a Teologia da Prosperidade” obriga a um trabalho pastoral reforçado.

“Num mundo onde tanto se veicula a ideia do êxito da vida, com a maior facilidade possível, essas seitas acabam por ter de facto o seu êxito”, porque apresentam “uma religião sem cruz”, que resolverá “todos os problemas da vida”, conclui o responsável católico.

LS/JCP

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